Monday, August 28, 2006

 

LULA E O JANELSON: Estava pensando na indignação de PSDB e PFL com a enorme vantagem aberta pelo presidente Lula na corrida da reeleição e lembrei uma historinha da velha Casseta Popular, que conheci em sua adolescência pré-Globo e, obviamente, muito mais engraçada do que agora -entre outros motivos, por ser muito mais politicamente incorreta do que hoje. Lembrei de um texto em que uma mulher dizia que o marido batia nela, mas explicava por que continuava a viver com o sujeito. "Ele faz o supermercado e registrou o Janelson no nome dele, sem fazer perguntas", dizia. Pois é, acho que se passa algo parecido com o presidente. Com Bolsa-Família, Pró-Uni, aumento recorde do salário mínimo, políticas sociais voltadas para os mais pobres, o eleitorado mais humilde resolveu relevar mensalões, vampiros e sanguessugas, vistos como coisas "dos políticos" - quaisquer que sejam. Em resumo: Lula registrou o Janelson.

Sunday, August 27, 2006

 

PNEUMOTÓRAX: De certo modo, Geraldo Alckmin tinha razão: o programa de televisão mudou o quadro eleitoral, embora não na direção esperada pelo ex-governador paulista. Os resultados da última pesquisa Estado/Ibope, divulgados na edição de hoje, 27 de agosto, do jornal O Estado de S. Paulo, mostram, de forma mais consolidada que sondagens anteriores, um leque de mudanças. Os primeiros dias de guerra televisiva fizeram crescer os índices do presidente Lula, que chegou aos 49%; inicialmente derrubaram e depois estabilizaram o candidato tucano (aparentemente, ele chegou a seu “chão”, em torno de 22%); e alvejaram duramente Heloísa Helena, que, com 9% (chegara a 12%), pode ter sido apenas uma moda de inverno, agora em refluxo, principalmente devido ao tempo exíguo de televisão. O mais preocupante para o tucanato,porém, é que, além de Lula, com seu discurso voltado para os pobres, ter subido de patamar, Alckmin só conseguiu crescer um ponto, de 21% para 22%, porque aparentemente avançou sobre o eleitorado de Heloísa. Se, antes da TV, a senadora lhe tomava votos, agora o processo de inverteu – pelo menos, é o que fazem crer os números referentes às faixas mais escolarizadas e com maior renda. Alckmin, se quiser sonhar com o segundo turno, terá que tirar eleitores de Lula e torcer para que Heloísa faça o mesmo. Se isso não ocorrer, a única coisa que lhe restará será tocar um tango argentino.

Saturday, August 26, 2006

 


REALISMO SOCIALISTA: Em visita de trabalho a Volta Redonda, cobrindo a campanha de Heloísa Helena (PSOL) para presidente, na semana passada, encontrei uma cidade muito diferente daquela que conheci em 1988, quando acompanhei os últimos dias da greve que resultou no assassinato de três trabalhadores durante invasão da CSN pelo Exército. Encontrei um município não necessariamente melhor do que o dos anos 80, com shopping centers (e tudo de bom e ruim que eles trazem), ruas limpas, camelotagem (ainda que mais organizada que na capital) e até um lugar, a Praça do Urro, onde agora se reúnem os muitos desempregados do local. Não vi nas ruas uma só pessoa com o uniforme da siderúrgica, imagem comum no passado. No carro de som à porta da Usina Presidente Vargas, Heloísa e seus seguidores vociferaram para uma classe operária que, aparentemente, não existe mais, pelo menos na quantidade e nos sonhos do passado. Achei fria a recepção à candidata,diferentemente, por exemplo, do que testemunhei em Nova Iguaçu, onde eleitores em fúria abriam caminho na multidão para abraçá-la e beijá-la. Diante do novo cenário de VR, a aparente indiferença, para mim,não foi surpresa.

 
PACTO IMPOSSÍVEL: Aos 44 anos, sou velho o bastante para lembrar das propostas de pacto social feitas no fim da ditadura militar, todas referenciadas no Pacto de Moncloa espanhol. Por isso, sinto cheiro de naftalina na proposta do governo federal de fazer um acordo de conciliação política, espécie de plano de desenvolvimento a ser montado com a colaboração de governistas e oposicionistas, lançada semana passada. É verdade que, se houvesse um mínimo de sensatez aqui na ex-Terra de Santa Cruz, há muito já teriam sido traçados alguns objetivos nacionais permanentes - por exemplo, universalização da educação pública de qualidade. No passado, ainda que sem pacto, isso foi feito, por exemplo, em torno da auto-suficiência na produção de petróleo - e o fato é que chegamos lá. Mas, mais do que sensatez, falta, parcial ou totalmente, interesse das partes envolvidas para que metas assim sejam estabelecidas e cumpridas. Aqui, passada a trégua inicial após a provável vitória de Lula, a oposição provavelmente deverá voltar a se articular para sitiar o governo. Como ocorreu, no passado, nas presidências de Getúlio, JK e Jango, com resultados diversos: o suicídio presidencial no primeiro mandato, o esgotamento das alternativas políticas no segundo e o golpe militar no terceiro. E como fez na de Lula, resultando, paradoxalmente, no cada vez mais próximo fracasso eleitoral de PSDB e PFL. Se o presidente for reeleito e houver algum acordo, deverá ser pontual e limitado, sem o perfil de um pacto duradouro, simplesmente porque não há clima para isso. Ou alguém é ingênuo para achar o contrário?

 

ERRO TÁTICO:PSDB e PFL aparentemente pensam estar disputando uma eleição convencional. Não estão. O que acontece no Brasil é um plebiscito. Em regimes presidencialistas com reeleição, essa tendência é recorrente: o povo é chamado a dizer se quer a continuidade ou a substituição do governo. Essa também é a direção freqüentemente tomada pela democracia brasileira no pós-guerra. Foram plebiscitárias as eleições de 50 e 55, foi plebiscitária a eleição de 74, foram plebiscitos informais as eleições de 94 e 98. E, ironicamente, para tornar plebiscitária a eleição de 2006, contribuiu a oposição, com o a estranha combinação de tática do tudo ou nada, com os ataques via CPIs,e a idéia de manter o governo “sangrando” até a eleição, para varrê-lo nas urnas. Violou o mandamento de Maquiavel que estabelece que, na política, o inimigo político deve ser liquidado assim que a chance para fazê-lo se apresente - porque o adversário, provavelmente, não terá piedade quando tiver a oportunidade. Exatamente o que está havendo.

Sunday, August 20, 2006

 

TERMINAL: Agoniza a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência. O tucano e seus seguidores sabem que têm basicamente 20 dias, até 10 de setembro, para saber se haverá ou não segundo turno. Os sinais emitidos pelo eleitorado após uma semana de propaganda gratuita dizem que não: Alckmin caiu, Lula (PT) subiu, e Heloísa Helena (PSOL), a bordo de uma coligação frágil e com pouco mais de um minuto de televisão, também teve crescimento, sobre faixas sociais que, em tese, votariam contra a esquerda. O quadro é de queda continuada do postulante do PSDB na classe média e impossibilidade de sua penetração nas camadas populares. Seu programa de televisão, tecnicamente bem-feito, acaba, pelo tamanho do tempo de televisão e perfil do candidato, se tornando enfadonho. Talvez o desempenho do postulante do PSDB sinalize que, mais do crescimento no início da campanha, Alckimin surfou numa "bolha" de opinião pública, formada por votos que eram de Roberto Freire (PPS) e Enéas Carneiro (Prona), pré-candidatos que não confirmaram suas candidaturas, e turbinada pela boa exposição em spots curtos de televisão. Resta saber o que farão PSDB e PFL quando perceberem que a derrota é realmente certa e possivelmente acachapante.

 

CARAVELAS QUEIMADAS: O tombo de Sérgio Cabral Filho (PMDB) na corrida pelo governo do Rio - de 42% para 36%, mal iniciado o horário eleitoral gratuito - é mais um sinal de que o quadro eleitoral fluminense não está fechado. Paradoxalmente, o senador sofreu perdas significativas no interior, onde é forte o padrinho de sua candidatura, ex-governador Anthony Garotinho, e na classe média, onde o horror a Garotinho é conhecido. O candidato pode estar começando a pagar por sua atitude dúbia em relação ao governo do Estado, dominado pelo casal Garotinho, e por seu estilo indefinido de campanha, no qual morde e assopra todo mundo e que pode levá-lo à solidão eleitoral. Talvez tenha chegado para o senador a hora da definição, exercício arriscado em política, que Cabral, sempre que pode, evita. Lembram de Miro Teixeira em 1982, quando tentou se desvencilhar da influência de Chagas Freitas e não conseguiu apoio da esquerda, abrindo caminho para o fenômeno Brizola? Pois é, algo parecido pode estar para acontecer no sempre surpreendente Rio de Janeiro. Uma queda mais acentuada de Cabral poderá abrir alas para a ascensão de outra candidatura, provavelmente pela esquerda e com base na classe média, espaço que o senador Marcelo Crivella (PRB), pelo perfil de sua candidatura, não conseguirá ocupar.

 
VIDA SELVAGEM: Estes tipos lombrosianos e figuras bizarras que povoam o horário eleitoral gratuito, principalmente, dos candidatos a deputado na televisão, transformaram-se nos mais eloqüentes cabos eleitorais da reforma política. O desfile de gente esquisita lembra um pouco aquela cena de "True Stories" ("Histórias Reais"), de David Byrne, na qual os sujeitos mais inacreditáveis se revezam cantando "Wild, Wild Life", e nos deixam em dúvida sobre se não estamos diante de um concurso de feiúra. O problema maior, contudo, é o que dizem. Pode alguém realmente acreditar que debate político é balbuciar, em mau português, algumas palavras em cinco segundos, seguidas de um nome e um número? Alguém crê que isso ganhe voto? Aliás, quem vota nesses caras?!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?