Saturday, January 20, 2007

 
CHÁVEZ, CHAPOLIM ETC: Acompanhei de perto, como repórter, os dois dias de show do presidente da Venezuela, Hugo Chávez , no Brasil, e cheguei ao fim da maratona tentando entender como direita e esquerda podem ver nele o perigoso líder de uma nova revolução socialista e terceiro-mundista. Vi um bem articulado militar nacionalista (não socialista), aparentemente bom conhecedor da História latino-americana, messiânico e um pouco delirante, mas com posições políticas e econômicas constrangedoras pelo isolamento com que foram recebidas pela maioria dos participantes do encontro, feitas as devidas exceções de Bolívia e Equador. Evidentemente, Chávez, ao citar Bolívar, O’Higgins e outros libertadores da América, quer se apresentar como seu continuador, mas não vejo nele força para liderar muita coisa no continente. Ns anos 60, Cuba se apresentou como modelo de socialismo e se transformou em plataforma exportadora da revolução, sob o comando de Che e Fidel, pela força de uma ideologia que surfava no espírito de mudança da época. Agora, o que fortalece os venezuelanos não é o seu modelo político-econômico ou sua pregação ideológica, mas, ironicamente, o dinheiro farto do petróleo vendido segundo o modelo capitalista que, em tese, os chavistas querem destruir, mas indispensável à cultura pragmática da globalização. Chávez é uma espécie de tio rico do Terceiro Mundo, um mecenas do socialismo, cuja força está menos na genialidade da sua pregação que no tamanho da sua conta bancária. As limitações da sua ação, impostas pelo preço internacional do óleo cru, são evidentes. A idéia de que transformará o Mercosul em palanque para suas posições também tem limites claros na falta de gente disposta a levar a sério os seus longos comícios, já que os principais parceiros (Brasil e Argentina) o tratam como uma espécie de amigo excêntrico, mas pouco prático, e Paraguai e Uruguai olham com atenção para os EUA. Outros latino-amercanos, como Chile, Peru e Colômbia, também jogam em outro time. Restam bolivianos e equatorianos, que correm para Chávez por serem extremamente pobres, o que, na outra ponta, lhes impõe limites muito claros para a brincadeira revolucionária. Claro que Chávez impressiona pela grande presença de mídia que tem, é um excelente marqueteiro de si mesmo, controla um setor estatal de comunicação importante, que o acompanha e fortalece sua imagem. Consegue, com suas expressões fortes e provocações bem-articuladas, bom espaço nos meios de comunicação. Mas é tudo. Não parece que sua astúcia o leve muito além das manchetes tonitruantes.

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