Sunday, September 16, 2007

 
PNAD, ROTEIRO DE LEITURA: O incremento na renda dos brasileiros, em especial dos mais pobres, apontado pela última PNAD divulgada na sexta, 14, constituiu-se em uma espécie de roteiro para leitura e compreensão da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. Na lista, foram confirmadas verdades e derrubados mitos acalentados à direita e à esquerda, na imprensa e na academia, no patronato e entre sindicalistas.

Algumas verdades:

1) Os mais pobres e menos escolarizados reelegeram Lula – Verdadeiro. O motivo está lá na PNAD: o maior incremento de renda dos últimos 11 anos. Os beneficiados identificaram a melhoria e disseram, nas urnas, que aprovam essa política. Isso é um saudável exercício democrático, uma prova de funcionamento da democracia brasileira, com todos os senões, deficiências e limitações que temos: vale a vontade da maioria, que sabia o que fazia;

2) A votação do presidente se enraizou nos grotões – Verdadeiro. Nesses lugares, a renda avançou muito, e a resposta veio em votos para o presidente. A maior vítima foi o PFL, que tinha nos pequenos municípios nordestinos a sua base de apoio. Resultado: destroçado em 2006, o partido mudou seu nome para DEM e colocou como seu presidente nacional um político jovem, desconhecido, do Sudeste do País e filho do único prefeito de grande capital reeleito pelo partido para o posto: Rodrigo Maia (RJ), filho de César Maia;

3) A opinião pública mudou de eixo – Verdadeiro. Marqueteiros e políticos têm que prestar atenção aos mais pobres, sobretudo à classe C ascendente criada pela mudança do perfil da renda e que se incorpora à classe média, com valores diferentes da tradicional visão de mundo dos setores mais abastados da população;

4) O avanço é grande, mas, ainda assim, insuficiente – Verdadeiro. Não é pouco, para um país com o perfil de renda brasileiro, ver os ganhos do trabalho crescerem 7,2% reais de um ano para o outro. Ainda é, contudo, pouco. E a economia ainda não mostra sinais de uma inserção no mercado internacional menos dependente dos preços de commodities e produtos de baixa tecnologia e baixo valor agregado.

Alguns mitos:

1) Lula comprou a sua reeleição com assistencialismo do Bolsa-Familia e aumentos generosos de aposentadorias e pensões – Falso. O maior incremento da renda, 12,1%, foi no rendimento do trabalho assalariado. O BF e o INSS, claro, ajudaram, mas provavelmente de forma indireta, pelo incremento do mercado interno, que estimulou o emprego;

2) O crescimento dos empregos se deu mais na informalidade – Falso. A pesquisa mostra vigoroso aumento dos empregos formais, com carteira assinada, embora a maior parte dele nos de remuneração mais baixa;

3) Lula foi reeleito por ignorantes, que não sabem o que acontece no País e, por isso, reelegem um governo mergulhado na corrupção – Falso, de novo. Se é verdade que o governo Lula foi leniente com desvios e ilegalidades expostos nas CPIs e investigações da Polícia Federal, também é verdade que os pobres que o reelegeram souberam exatamente identificar seus interesses de classe imediatos, que apontavam para a reeleição do presidente que lhes melhorou a renda;

4) O Brasil não cresce, enquanto outros países emergentes disparam no crescimento – Falso, pelo menos para os mais pobres. Para as faixas de renda menores, a sensação do crescimento bombado a crédito farto e emprego em alta é de um país com expansão próximo da indiana.

De conclusivo: o discurso do governo ganha densidade, sobretudo no plano imediato, fortalecendo-se como parceiro em 2008 e, a prevalecer essa situação, como eleitor em 2010, o que pode fortalecer o setor petista favorável ao candidato próprio à Presidência. A oposição, por seu turno, terá que rever planos e táticas, sob risco de sofrer prejuízos graves na disputa municipal e de ficar longe do Planalto, pelo menos, até 2015.

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